sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

No fundo, no fundo é só mais do mesmo...

Do outro lado de lá, das altas e amplas janelas, o azul é horizonte, o sol queima suavemente um tempo que há muito deixou de ser uma inquietação. Um tanto quanto mais abaixo, o que se diz por lá não é menos que a verdade, mas muito mais que a fatalidade, fatalidade que vem de fatal, fatal, mortal, mortal de morte, morte cruel sanguinária, morte dos pobres dos ricos insatisfeitos, suicídio, genocídio, homicídio não qualificado enquanto se qualificam como carne para canhão, como vidas que deixam de ser vividas, promessas, dividas que deixarão de ser cobradas, pestes, proliferação de doenças venéreas, cataclismos tempestuosos, tragédia em modo greco-latino. UMA TRAGÉDIA CONTEMPORANEA. Esqueceram-se do Tempo ao lume, tempo queimado, carbonizado, ressequido no fundo de um tacho, velho, vagabundo, moribundo. Gentes múltiplas que buscam o elixir, o detergente que conseguirá salvar, pelo menos, o tacho degradado pelo Tempo crestado.
Deste lado de cá, não menos fatalista que os de lá de baixo. Das pequenas janelas e dos baixos tectos, a luz não deixa de entrar. Vibrante dourada que lubrifica e energiza os corpos gastos pela noite. Aqui o Tempo teve motivos bem mais gravosos, foi causa de um grande incêndio explosivo, ao que se sabe, encontrada notícia em velho jornal inexistente num baú abandonado, os de cá, enquanto aqueciam o Tempo, esperavam ansiosos à porta pelo seu salvador, um messias, profeta, soldado ou embaixador, um tal, um suposto desaparecido em combate. Que do meio da bruma os viria salvar, rejuvenescendo glorias passadas, ressurgindo ideias avassaladoras que os pusessem em linha de comando para a eternidade. Graças a isso cremaram o Tempo, o tacho em aço inoxidável, o fogão, bem como toda a casa.
O único que não perdeu nada no meio de toda esta história, foi aquele que por ter perdido tudo em tempos ancestrais, já nada tinha a perder. Ele que no fundo da rua vivia envolto em velhos colchões de esponja e cartões/ plásticos sujos pela lama da chuva e pelos resíduos animais. Aquele de quem todos esqueceram o nome e que todos rejeitam e maltratam. Mas como em qualquer novela, porno chachada latino-europeia, descobrirão, talvez, um dia, ou não, ser o seu próprio pai.

Um comentário:

Anônimo disse...

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