quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Madrid 1983

Recém-chegado ao reino Peron, mais do que uma longa viagem de avião, uma autêntica viagem no tempo, “sensacion de vivir”, assim passo eu por um outdoor à medida que o táxi, com o retrovisor enfeitado com emblemas alusivos a actos religiosos, se dirige a um qualquer sítio para mim completamente desconhecido, qualquer sítio serviria com certeza, a rua é longa o número 4069 parece nunca mais chegar, está a chover. Não está, mas está quase. Tenho cara de banqueiro, empresário de sucesso, sou um simples turista a quem por qualquer convenção esquisita se pede dinheiro. Não percebo nada, sou de cá, sou turista, quem sou eu. Há quem me confunda com um espanhol, ligeira sensação de prazer, parece que tenho sotaque espanhol, segundo dizem, recuso-me a pôr xs em quase todas as sílabas. Aqui canta-se tango, reconheço algo nesta forma de cantar, sensação familiar, estou em casa. Não, não estou.
A qualquer momento vou-me perder, dirijo-me a sul pensando no norte, encontro-me algures num deserto recôndito, cheio de edifícios disformes prestes a explodir a qualquer minuto, segundo, milésimo de segundo. De repente falam comigo, do nada, não sei quem é, mostram-me a fotografia do grande Carlos Gardel, quem é esse? - Pergunto eu. Cantam sem eu pedir seja o que for, convidam-te, se quiseres, a dançar tango se lá fores.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que bom!!!! Estás a viver... Vai sempre contando coisas pff. Um beijo grande do miguel e da margarida bento
Beiojos